segunda-feira, 16 de março de 2009

Memorial de leitura

"A vida não é a que a gente
viveu, e sim a que a gente
recorda, e como recorda
para contá-la."
Gabriel Garcia Márquez

Conte mais!


Lembro-me exatamente de como tudo aconteceu! Eu, ainda pequenina, juntamente com minha mãe, meu pai e meus irmãos íamos passar as férias na fazenda.
Que delícia que era!
Todos os dias à tardezinha ficávamos sentadas à porta da casa. Eu me deitava com a cabeça no seu colo, recebendo seus carinhos maternais. Nesse momento ela começava a contar suas histórias.
Não sei se de fato existiam ou se eram criadas por ela naquele instante. Só sei que eram maravilhosas e que eu, muitas vezes pedia:
_ Conta mais!
_ Conta mais!
Recordo ainda que com meu jeito meio moleca, meio menina manhosa sempre dava um jeitinho para que, no dia seguinte, fôssemos para lá e de novo começava...
Ela contava, contava e as cenas vinham à minha mente, como quem estivesse protagonizando um filme, uma novela.
Para mim, o mais emocionante era quando minha mãe interrompia a história para eu dar continuidade e, me lembro muito bem, que a contribuição dada por mim, fazia , de fato, parte daquela história.
Como se não bastassem aquelas narrativas , ela também cantava e eu ia repetindo com uma voz que destoava, mas cantava , eu era até aplaudida... fazíamos uma festa!
Das histórias contadas pela professora na Escola, eu não gostava muito, as que me encantavam mesmo eram aquelas contadas pela minha mãe.
Às vezes, ela pegava o livro e começava a ler, e eu atenta, observava que ela mal olhava para as palavras contidas no texto , dava continuidade a história e em nenhum momento se perdia.
Isso me deixava fascinada!
Tem mais! Eu até podia escolher a história que eu quisesse! ela me entregava o livro e eu, pelas imagens , indicava a que queria ouvir.
E assim fazíamos todas as noites.
Fim de férias, voltávamos para a cidade!
Lá a minha mãe não tinha a mesma disponibilidade, isso me deixava triste.
Eu pensava:
‘ Um dia vou aprender a ler, e todas as histórias serão minhas, vou poder ler todas que eu quiser’_ era o meu sonho!
Pegava o livro e começava a fazer minhas leituras, criando a história de acordo com as imagens. Lia todas, e o melhor _elas acabavam do jeito que eu queria!
E quando comecei a ler?
Que felicidade!
Todos ficaram felizes, a partir daí sempre que meus pais estavam em casa, me pediam para eu ler para eles, e com muito orgulho sentavam-me perto deles e começava a leitura.
Passados alguns anos fui para o ginásio _ era assim que chamávamos o fundamental de 5ª a 8ª série. As aulas das quais eu mais gostava eram as de português, quando era para ler então, que maravilha! eu sempre me predispunha, ler era o que eu realmente amava.
No ensino médio melhorou ainda mais, pois comecei a ter o contato mais direto com literatura, a minha professora Josina fazia-nos viajar...
Ah! na faculdade, já experiente nas leituras literárias, me destaquei, a professora Zélia Saldanha, “viajava” comigo, e muitas vezes me elogiava.
Lembrar disso me traz muita felicidade, e hoje compreendo a importância de meus pais na minha vida enquanto leitora, esses momentos proporcionados pela minha mãe, fizeram com que fossem estimulados o meu pensamento hipotético, dedutivo, e a capacidade de abstração.
Enfim, todas aquelas histórias lidas e contadas pela minha mãe, despertaram em mim o desejo desenfreado de aprender a ler. Enquanto eu viver, essas lembranças virão à tona, espero também poder despertar em meus filhos, meus netos e em meus alunos, o gosto pela leitura, e relatar para eles como isso aconteceu comigo.

Luciléia Queiroz Guimarães

domingo, 15 de março de 2009

Zelo

Cuidar da vida,
desse infinito
novelo
de tantas tramas
e cores.
Cuidar de cada
vida
com desvelo,
para que a Terra possa
continuar sua dança,
para que possamos todos
continuar nossa trança.

Roseana Murray